quinta-feira, 28 de julho de 2011

Música na Reforma e Contra-Reforma

A história da evolução do espírito humano tem sido uma das mais brilhantes linhas de pesquisa. Desde os primórdios até o presente momento tem sido assim.

Uma parte dessa história merece atenção especial no que tange à música, especificamente num período em que as concepções de mundo, de valores éticos e morais e até da própria vida estavam se alterando profundamente, na Europa do século XVI.

O despertar para uma nova mentalidade, com uma nova visão do Homem e do mundo, recebeu o nome de Renascimento1, o qual teve origem na península itálica e, baseando-se no princípio de reviver, de recuperar a arte, a cultura e civilizações clássicas, marcou forte e irreversivelmente uma nova era cultural.

A vida material alargou-se de tal forma que o interesse pela arte e pelo luxo fez do homem renascentista um adepto do viver intensamente a vida terrena, diferentemente do pensamento difundido da Idade Média2, em que o medo e a contrição amordaçavam-no. A própria preocupação com o Naturalismo, em que a Terra e a Natureza são considerados elementos simbólicos de perfeição, revela a laicização da nova mentalidade.

O Homem passou a ser o centro das atenções – ANTROPOCENTRISMO3 – e buscou explicações racionais, lógicas para os fatos. A pessoa Divina não foi descartada, entretanto não ocupou mais o centro das coisas – TEOCENTRISMO4 – como acontecia na Idade Média. Esse foco voltado para a valorização humana recebeu o nome de ILUMINISMO5 que, aliado aos ideais clássicos, propunha-se a resgatar aqueles valores greco-romanos – CLASSICISMO6 –  não como mera cópia do passado, todavia pautado numa fé no homem e numa valorização ético-filosófica de sua dignidade, pontos esses que são bem notórios na produção musical.

Foi nesse meio conturbado, de ruptura com o pensamento ideológico da Igreja Medieval, o racionalismo que se expandiu até à queda de Constantinopla 7 (1453),  a crise instalada na Igreja Católica desde o Grande Cisma8, culimnariam em várias reformas religiosas: LUTERANISMO9, CALVINISMO10, ANGLICANISMO11.

É nessa época que a sociedade passou a ter outra configuração, com o surgimento de novas classes, e que senhores feudais12 e monarcas pretendiam unificar os seus territórios, centralizar o seu poder régio; e muitos se aproveitaram dessas novas igrejas emergentes para se separarem do Vaticano e de sua esfera de influência.

A MÚSICA NA REFORMA– SÉC. XVI

Querendo que os seus seguidores participassem da liturgia e a compreendessem, Martinho Lutero13 assentou esse trabalho em três pilares: o uso da língua comum, uma melodia simples e o texto das escrituras.

Numa primeira fase, procurou a colaboração de poetas e músicos que pusessem em prática esses princípios, os quais se opunham claramente aos da Igreja Católica, onde se ouviam textos numa língua estranha, o latim, interpretados por coros em que não intervinham. Havia uma intenção estética, suportada pelos objetivos de ordem sociológica e psicológica de fazer participar todos os fiéis nos atos litúrgicos.

A solução mais próxima foi traduzir as escrituras para os idiomas locais e recorrer a melodias profanas. Nesse primeiro passo, a prioridade era dada à palavra e não à música. Paralelamente, a música culta, com o avanço da burguesia, começara a sair das igrejas e dos salões dos nobres para os teatros, para salas mais acessíveis às classes ascendentes.

Pouco a pouco, o coral luterano vai escrevendo novas melodias em que a  inteligibilidade do texto é central e a música se torna mais elaborada com a participação de solistas e coros.

O movimento reformista na Igreja Católica trouxe modificações tanto na concepção religiosa quanto na celebração dos cultos, onde o canto e a palavra passaram a ter uma importância primordial.

Lutero idealizou o coral que deveria entoar as canções na língua vernácula, a fim de que o povo cantasse os cânticos e entendessem, sobretudo, a mensagem a eles subjacentes.

Não tardou muito para que a nova música coral se disseminasse, não apenas nas regiões protestantes, como também nas católicas. A isso, contribuiu o surgimento da imprensa e o apoio de poetas e músicos, amigos de Lutero como Johann Walther, Konrad Rupff e Ludwig Senfl.

Origem dos textos e das melodias

Como se sabe, a música coral ultrapassou todos os limites e floresceu em diversos lugares, até nos mais distantes.

Essa música, produzida cuidadosamente por Martinho Lutero e por seus amigos, passou a ser uma espécie de bandeira, em cuja melodia estava o consolo, o conforto para o coração humano, conforme atesta Hans Staden, quando cativo na tribo dos Tupinambás, no Brasil.

A força dessa nova música, apesar de proveniente de textos bíblicos já conhecidos e de adaptações bem metrificadas de salmos, hinos ou da tradução da hinódia oficial latina, superou até o saltério francês.

Se o objeto de Martinho Lutero era tornar a palavra de Deus conhecida do povo por meio do sermão e da música, entende-se perfeitamente o motivo por que lançou mão de melodias populares para servirem às canções do coral. Era mais prático e de fácil assimilação pelo povo.

As melodias mais usadas vieram de canções populares francesas, as chansons14 (por ex: Il me suffit de tous mes maux – 1529), e de árias de dança também francesas.

Muitos autores fizeram uso desse recurso, ou seja, de empregar uma melodia já conhecida em textos para compor as músicas corais. Entre eles, destacam-se Johann Sebastian Bach e Michael Praetorius. Outros ainda, de uma forma ou outra, deram sua contribuição para a música dos países da Reforma: Clemente Marot, Teodoro de Beza, Luis Bourgeois, Claude Lejeune e Claude Goudimel.

O Saltério Huguenote, de 1562, depois de harmonizado a várias vozes por Goudimel, foi introduzido na Alemanha por Ambrosius Lobwasser, que o traduziu para o alemão e o divulgou.

Os cânticos espirituais medievais também ofereceram subsídios aos corais.

É importante que se saiba que poucos foram os compositores dessa época que produziram melodias originais. Podem ser citados Lutero (1483-1546), Johann Walther (1496-1570), Ludwing Senfl (1492-1555), Martin Agrícola (1486-1556), Philipp Nicolai (1556-1608), Hans Leo Hasser (1564-1612) e Bartholomeus Geisus (1555-1613).

A MÚSICA NA CONTRA-REFORMA – SÉC. XVI

O início da contra-reforma é marcado pelo Concílio de Trento15 e pela Fundação de Companhia de Jesus16, segundo os protestantes.

Na verdade, a contra-reforma foi uma reforma dogmática, dentro do possível, administrativa; uma reforma moral, do culto e da sua música.

Na música, a Reforma não foi apenas litúrgica. Para que a verdade religiosa ficasse bem representada, os fiéis deviam entender bem as palavras sagradas que o coro cantava. São reduzidas a abundância e a suntuosidade das artes do contraponto e não se cantam mais, simultaneamente, textos diferentes. A simplificação da polifonia torna dispensável o acompanhamento instrumental para o apoio do coro. Até o órgão podia ser calado ou serviria apenas para uns poucos acordes iniciais que criam uma atmosfera peculiar.

A música da Contra-Reforma foi basicamente à capela pois para muitos só a voz humana era digna de louvar o Criador. Aí está a base do estilo de Palestrina.

Giovanni Pierluigi de Palestrina17 (c. 1525-1594) tinha um sentido de equilíbrio perfeito, e ocupa dentro da música da Igreja Romana a mesma posição de destaque que Bach ocuparia dentro da Igreja Luterana. A tradição de Palestrina ficou viva em Roma por mais de um século e influenciou músicos em todo o mundo católico.

A MÚSICA NA REFORMA E NA CONTRA-REFORMA – SÉC.XVI

Sabe-se que a reforma religiosa tem repercussões irreversíveis em todos os níveis, incluindo o próprio plano musical. Contudo, ela só se fez sentir neste domínio, porque a reforma que Lutero desencadeou em 1517 com a afixação das 95 teses doutrinais18 não só renovou a ordem litúrgica, como realçou a importância da música no culto.

A utilização geral do vernáculo, como sinal de participação na assembleia, tornou necessária a reformulação dos cânticos litúrgicos. Assim, adaptaram-se músicas populares, compuseram-se peças destinadas ao fim litúrgico, e até o próprio Lutero traduziu cantos gregorianos19.

Apesar da Igreja Protestante não renegar completamente a música sacra europeia, como a missa20 e o moteto21 polifônico, a verdade é que ela abalou os alicerces culturais da Igreja Católica ao promover uma música sacra em vernáculo e criada a pensar na participação popular, partindo de formas bastante simples e lineares.

O “coral protestante”, que se baseava na tradicional lied22 alemão, era a grande bandeira de campanha da nova igreja reformada, que possibilitava a exaustiva criação de obras musicais e que assim atraía inúmeros músicos, como H.Schutz, J. S. Bach e Johann Walther. Foi desta maneira que Lutero conseguiu reunir rapidamente uma grande quantidade de composições monofônicas e polifônicas simples.

O período em que aconteceram a Reforma e a Contra-Reforma abrange o Renascimento. A mudança na mentalidade do homem renascentista revelou um interesse mais vivo pela música profana e em escrever também peças exclusivamente para instrumentos e não apenas para acompanhar vozes, embora se saiba que o que ganhou mais notoriedade foi a música composta para a Igreja. 

O diferencial entre a música profana e a sacra é muito tênue tanto na estrutura quanto na própria forma textual. Porém, o que pode servir de divisor entre uma e outra é a função e o repertório a que se destinam.

No final do século XVI, os luteranos criaram um tipo de música muito simples para o seu culto, de forma a facilitar o canto aos seus fiéis. Denominada de “coral”, ela consistia em um movimento de acordes com melodias curtas, pouco elaboradas e de ritmos fáceis, baseando-se em temas folclóricos e em cânticos católicos.

No culto católico, a música era bem mais elaborada e, ao descobrir a vantagem da simplificação musical, a Igreja Católica procurou igualmente acompanhar esta linha, movida, é claro, pelo espírito da Contra-Reforma. Dessa forma, foi exigido pelas autoridades eclesiásticas que as músicas tivessem menos elaboração contrapontística e rítmica, todavia de natureza mais homofônica.

Valfredo Benevendes

NOTAS
RENASCIMENTO 1
O termo Renascimento é comumente aplicado à civilização europeia que se desenvolveu entre 1300 e 1650. Além de reviver a antiga cultura greco-romana, ocorreram nesse período muitos progressos e incontáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que superaram a herança clássica. O ideal do humanismo foi, sem dúvida, o móvel desse progresso e tornou-se o próprio espírito do Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição consciente (o re-nascimento) do passado, considerado agora como fonte de inspiração e modelo de civilização. Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valorização do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade Média. 

Características gerais:

 * Racionalidade
 * Dignidade do Ser Humano
 * Rigor Científico
 * Ideal Humanista
 * Reutilização das artes greco-romana


IDADE MÉDIA2

A Idade Média, Idade Medieval, Era Medieval ou Medievo foi o período intermédio numa divisão esquemática da História da Europa, convencionada pelos historiadores, em quatro "eras", a saber: a Idade Antiga, a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.
Este período caracteriza-se pela influência da Igreja sobre toda a sociedade. Esta encontra-se dividida em três classes: clero, nobreza e povo. Ao clero pertence a função religiosa, é a classe culta e possui propriedades, muitas recebidas por doações de reis ou nobres a conventos. Os elementos do clero são oriundos da nobreza e do povo. A nobreza é a classe guerreira, proprietária de terras, cujos títulos e propriedades são hereditários. O povo é a maioria da população que trabalha para as outras classes, constituído em grande parte por servos.
O sistema político, social e econômico característico foi o feudalismo, sistema muito rígido em progressão social.
Fome, pestes e guerras são uma constante durante toda a era medieval. As invasões de árabes, vikings e húngaros dão-se entre os séculos VIII e XI. Isto trouxe grande instabilidade política e económica.
A economia medieval é em grande parte de subsistência. A riqueza era medida em terras para cultivo e pastoreio. O comércio era escasso e a moeda era rara. A economia baseava-se no escambo.
Muitos Estados europeus são criados nesta época: França, Inglaterra, Dinamarca, Portugal e os reinos que se fundiram na moderna Espanha, entre outros.
Muitas das línguas faladas na Europa evoluíram nesta época a partir do latim, recebendo influências dos idiomas dos povos invasores.


ANTROPOCENTRISMO3

Antropocentrismo que vem do Renascimento (do grego άνθρωπος, anthropos, "humano"; e κέντρον, kentron, "centro") é uma concepção que considera que a humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é, o universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o Homem. É normal se pensar na ideia de "o Homem no centro das atenções". As palavras compostas pelo antropocentrismo são ANTROPO que significa homem e CENTRISMO que significa centro. Isto é, quer dizer que o homem é o centro de todas as coisas do universo.


TEOCENTRISMO4

Teocentrismo (do grego θεóς, theos, "Deus"; e κέντρον, kentron, "centro") é a teoria segundo a qual Deus é o centro do universo. Nada mais é maior que ele. Tudo foi criado por Ele e Ele dirige tudo.
Esse pensamento teria dominado a Idade Média, em que vigorava o feudalismo, sendo depois sucedido pelo pensamento antropocêntrico. Nesse período as pessoas eram voltadas inteiramente para a igreja, sendo-lhes proibido o uso da razão.


ILUMINISMO5

O iluminismo foi um movimento filosófico, político, social, econômico e cultural, que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. O centro das ideias foi a cidade de Paris.
Os iluministas defendiam a criação de escolas para que o povo fosse educado e a liberdade religiosa. Para divulgar o conhecimento, os iluministas idealizaram e concretizaram a ideia da Enciclopédia (impressa entre 1751 e 1780), uma obra composta por 35 volumes, na qual estava resumido todo o conhecimento existente até então.
O iluminismo foi um movimento de reação ao absolutismo europeu, que tinha como características as estruturas feudais, a influencia cultural da Igreja Católica, o monopólio comercial e a censura das “ideias perigosas”.
O nome “iluminismo” fez uma alusão ao período vivido até então, desde a Idade Média, período este de trevas, no qual o poder e o controle da Igreja regravam a cultura e a sociedade.


CLASSICISMO6

O classicismo foi um movimento cultural que valorizou e resgatou elementos artísticos da cultura clássica (greco-romana). Nas artes plásticas, teatro e literatura, o classicismo ocorreu no período do Renascimento Cultural (séculos XIV ao XVI). Já na música, ele apareceu na metade do século XVIII (Neoclassicismo).




Características do Classicismo:

- Valorização dos aspectos culturais e filosóficos da cultura das antigas Grécia e Roma;
- Influência do pensamento humanista;
- Antropocentrismo: o homem como o centro do Universo;
- Críticas às explicações e à visão de mundo pautada na religião;
- Racionalismo: valorização das explicações baseadas na ciência;
- Busca do equilíbrio, do rigor e da pureza formal;
- Universalismo: abordagem de temas universais como os sentimentos humanos.


A QUEDA DE CONSTANTINOPLA7

Denomina-se queda de Constantinopla a conquista da capital bizantina pelo Império Otomano sob o comando do sultão Maomé II, na terça-feira, 29 de maio de 1453. Isto marcou não apenas a destruição final do Império Romano do Oriente, e a morte de Constantino XI, o último imperador bizantino, mas também a estratégica conquista crucial para o domínio otomano sobre o Mediterrâneo oriental e os Bálcãs. A cidade de Constantinopla permaneceu capital do Império Otomano até a dissolução do império em 1922, e foi oficialmente renomeada Istambul pela República da Turquia em 1930.
A queda de Constantinopla para os turcos otomanos foi um evento histórico que, segundo alguns historiadores, marcou o fim da Idade Média na Europa e também decretou o fim do último vestígio do Império Bizantino.
Constantinopla (em latim: Constantinopolis; em grego: Κωνσταντινούπολη) é o antigo nome da cidade de Istambul, na atual Turquia. O nome original era Bizâncio (do grego Bυζαντιον, transliterado em Bizâncio). O nome da cidade era uma referência ao imperador romano Constantino I, que tornou esta cidade a capital do Império Romano em 11 de maio de 330.



GRANDE CISMA8

Existem, na realidade, dois episódios na história da igreja que disputam este título. O primeiro é a divisão ocorrida em 1054, no seio da igreja Cristã, entre a ala oriental e a ocidental, que gerou a chamada Igreja Ortodoxa, ou Grega-ortodoxa. O outro cisma, algumas vezes classificado como "o grande", ocorreu séculos depois, de 1378 a 1417, quando a Igreja Católica teve dois papados - um em Roma e o outro na França.


LUTERANISMO9

O Luteranismo é uma denominação cristã ligada diretamente a Martinho Lutero, pioneiro da Reforma da Igreja na Alemanha, a partir de 1517.


CALVINISMO10

O Calvinismo é tanto um movimento religioso protestante quanto uma ideologia sociocultural com raízes na Reforma iniciada por João Calvino em Genebra no século XVI.


ANGLICANISMO11

A Igreja da Inglaterra (em inglês: Church of England), também denominada Igreja Anglicana, é a Igreja cristã estabelecida oficialmente na Inglaterra e é a matriz principal da atual Comunhão Anglicana ligada à Sé de Canterbury, Inglaterra. Fora da Inglaterra, a Igreja Anglicana é geralmente denominada de Igreja Episcopal, principalmente nos Estados Unidos da América e países da América Latina.
A Igreja da Inglaterra compreende-se como católica e reformada:
·      Católica na medida em que se define como uma parte da Igreja Católica de Jesus Cristo, em perfeita e válida continuidade com a Igreja apostólica.
·      Reformada, na medida em que ela foi moldada por alguns dos princípios doutrinários e institucionais da Reforma Protestante do século XVI. O seu caráter mais Reformado encontra-se na expressão dos Trinta e Nove Artigos de Religião, elaborados em 1563 como parte do estabelecimento da via média de religião sob a rainha Elisabeth I da Inglaterra.
Os costumes e a liturgia da Igreja da Inglaterra, expressos no Livro de Oração Comum (em ingles, The Book of Common Prayer - BCP), são baseados em tradições da pré-Reforma, com influência dos princípios da Reforma litúrgica e doutrinária de inspiração protestante.


SENHORES FEUDAIS12

Os senhores feudais eram nobres que viveram na época da Idade Média (século V ao XV). Possuíam muito poder político, militar e econômico. Eram proprietários dos feudos (unidades territoriais) e possuíam muitos servos trabalhando para eles. Cobravam vários impostos e taxas dos servos, pela utilização das terras do feudo. Viviam em castelos fortificados e eram protegidos por cavaleiros. Os senhores feudais faziam e aplicavam as leis em seus domínios.


MARTINHO LUTERO13

O surgimento dos luteranos está ligado aos inícios da Reforma. A ideia central da Reforma é a convicção de que o ser humano não pode nem tem necessidade de salvar-se por si mesmo. Antes, a salvação é dada em Cristo "unicamente pela graça" e aceita "somente pela fé". Aparentemente simples, esse pensamento, biblicamente fundamentado, originou uma nova compreensão da Igreja, do sacerdócio, dos sacramentos, da espiritualidade, da devoção, da conduta moral (ética), do mundo, incluindo aí a economia, a educação e a política. Há um nome indissoluvelmente ligado a essas ideias: Martinho Lutero.
Lutero nasceu no dia 10 de novembro de 1483 em Eisleben, Alemanha. Preocupado com a salvação, o jovem Martinho Lutero decidiu tornar-se monge. Durante seus estudos, sempre o acompanhava a pergunta: "Como posso conseguir o amor e o perdão de Deus?"
Lutero foi descobrindo, ao longo dos seus estudos, que para ganhar o perdão de Deus ninguém precisava castigar-se ou fazer boas obras, mas somente ter fé em Deus. Com isso, ele não estava inventando uma doutrina, mas retomando pensamentos bíblicos importantes que estavam à margem da vida da igreja naquele momento.
Lutero decidiu tornar públicas essas ideias e elaborou 95 teses, reunindo o mais importante de sua (re)descoberta teológica, e fixou-as na porta da igreja do castelo de Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517. Ele pretendia abrir um debate para uma avaliação interna da Igreja, pois acreditava que a Igreja precisava ser renovada a partir do Evangelho de Jesus Cristo.
Em pouco tempo toda a Alemanha tomou conhecimento do conteúdo dessas teses, e elas espalharam-se também pelo resto da Europa. Embora tivesse sido pressionado de muitas formas - excomungado e cassado - para abandonar suas ideias e os seus escritos, Lutero manteve suas convicções. Suas ideias atingiram rapidamente o povo e essa divulgação foi facilitada pelo recém inventado sistema de impressão de textos em série.
O Movimento da Reforma espalhou-se pela Europa. Em 1530 os líderes protestantes escreveram a "Confissão de Augsburgo", resumindo os elementos doutrinários fundamentais do luteranismo.
Em 1546, no dia 18 de fevereiro, aos 62 anos, Martinho Lutero faleceu. Finalmente, em 1555, o Imperador reconheceu que havia duas diferentes confissões na Alemanha: a Católica e a Luterana.


CHANSONS14

Este gênero foi desenvolvido na França, especialmente em Paris, paralelamente à evolução do madrigal e de outras formas polifônicas profanas.
Estrutura
Era escrita para conjunto de três, quatro ou cinco vozes, sendo trabalhada em contraponto, nota contra nota. O canto era silábico e de ritmo constante, o que permitia desenvolver uma simplicidade harmônica e formal.
Texto
Os textos eram geralmente de grande qualidade e abordavam temas retirados de acontecimentos quotidianos, políticos, amorosos, eróticos, pornográficos.
Os compositores que podem ser destacados são Claudin de Sermisy (1490-1562), Clément Janequi (1485-1560), Pierre Certon (?-1572), Claude Le Jeune, Clemens non Papa, entre outros.


CONCÍLIO DE TRENTO15
Concílio de Trento é o nome de uma reunião de cunho religioso (tecnicamente denominado concílio ecumênico) convocada pelo papa Paulo III em 1546 na cidade de Trento, na área do Tirol italiano. Com o surgimento e consequente expansão do protestantismo profundas modificações atingiram a Igreja Católica. Uma reação a tal expansão, vulgarmente denominada “Contra-Reforma” foi guiada pelos papas Paulo III, Júlio III, Paulo IV, Pio V, Gregório XIII e Sisto V, buscando combater a expansão da Reforma Protestante. Além da reorganização de várias comunidades religiosas já existentes, outras foram criadas, dentre as quais a Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas, tendo como fundador Santo Inácio de Loyola.
O Concílio tinha como objetivo estreitar a união da Igreja e reprimir os abusos. Em tal concílio, os teólogos mais famosos da época elaboraram os decretos, que depois foram discutidos pelos bispos em sessões privadas. Interrompido diversas vezes, o concílio durou 18 anos e seu trabalho foi concluído somente em 1562, tendo realizado 25 sessões plenárias em três períodos diferentes (1545 a 1547; 1551 a 1552; 1562 a 1563), quando afinal suas sessões foram solenemente promulgadas em sessão pública.
Todo o corpo das doutrinas católicas foi discutido à luz das críticas da doutrina protestante. O concílio condenou a doutrina protestante da justificação pela fé, proibiu a intervenção dos príncipes nos negócios eclesiásticos e a acumulação de benefícios; também definiu o pecado original e declarou, como texto bíblico autêntico a tradução de São Jerônimo denominada “vulgata” (popular, ou de uso popular, em latim). Os sete sacramentos foram mantidos, assim como o celibato clerical, indissolubilidade do matrimônio, o culto dos santos e relíquias, a doutrina do purgatório e as indulgências, recomendando a criação de escolas para a preparação dos que quisessem ingressar no clero, denominando-as seminários.
Ao contrário dos concílios anteriores, foi estabelecida neste a supremacia dos papas, tendo o papa Pio IV que ratificar suas decisões.


COMPANHIA DE JESUS16

A 15 de agosto de 1534, acompanhado de seis discípulos, Inácio de Loyola, espanhol, figura de grande dimensão espiritual e humana, pronuncia em Montmartre (Paris) votos de pobreza e castidade, formando um novo instituto religioso, a Companhia de Jesus. Mais tarde, em Roma, submete-se ao serviço da Santa Sé. O papa Paulo III aprova a nova Ordem em 1540, mediante a apresentação por Inácio do esboço de uma regra, designada Formula Instituti.          
O lema da nova congregação é "defender e proteger a fé", visando ao progresso espiritual dos fiéis. Para isso acentua-se o apostolado sacerdotal, caracterizado por uma grande mobilidade e capacidade de adaptação dos seus membros às contingências do mundo exterior. Para além dos três votos solenes (pobreza, castidade e obediência), alguns jesuítas pronunciam um quarto, o de obediência especial ao papa como chefe da Igreja e vigário de Cristo.
Com uma hierarquia centralizadora, a Ordem é governada por um prepósito geral (cargo máximo dos jesuítas), eleito pela Congregação Geral, única e plena autoridade legislativa. A estrutura da Companhia é composta por noviços, coadjutores espirituais e professos.      
A defesa da reforma católica por teólogos jesuítas no Concílio de Trento (1545-1563) demonstra bem o contexto da época em que nasceu a Companhia de Jesus: a Contra-Reforma católica em oposição à Reforma Protestante encetada por Lutero em 1527. Combater a Reforma e formar teólogos e padres capazes de combater as novas adversidades do século XVI são alguns objetivos que norteiam a aprovação papal das propostas de Sto. Inácio.


GIOVANNI PIERLUIGI DE PALESTRINA17

Palestrina (Italia) - Estátua dedicada ao grande mestre
Não houve compositor anterior a Bach tão prestigiado como Palestrina, nem outro cuja técnica de composição tivesse sido estruturada com maior minuciosidade. Palestrina foi denominado como "O Príncipe da Música", e suas obras foram classificadas como a "perfeição absoluta" do estilo eclesiástico. Reconheceu-se que Palestrina captou, melhor que nenhum outro compositor, a essência do aspecto sóbrio e conservador da Contra-Reforma numa polifonia de extrema pureza, apartada de qualquer sugerência profana.
O estilo palestriniano pode-se verificar, com claridade nas suas Missas; a sua índole objectiva, friamente impessoal, resulta extremamente apropriada aos textos formais e rituais do Ordinário.
Desde logo a base do seu estilo é o contraponto imitativo franco-flamengo; as partes vocais fluem num ritmo continuo, com um motivo melódico novo para cada frase do texto. Palestrina mostra o caráter que vem associado ao gênio: plenamente consciente das suas capacidades e forte popularidade obtidos através de suas composições, nunca foi forçado a aceitar encomendas desagradáveis para sobreviver. Pelo contrário, soube fazer-se recompensar generosamente por todos os seus protetores, de modo que o Vaticano se viu constrangido a aumentar continuamente o seu salário anual, para mantê-lo em Roma, por causa de tantas propostas que recebia.
Foi um homem volitivo, mas com fortes impulsos que o levaram a súbitas e surpreendentes escolhas, tais como o segundo casamento, celebrado após receber ordenações religiosas menores.
Compositor prolífero, publicou muito em vida, e suas obras não caíram no esquecimento; ao contrário, foram sempre apreciadas como obras-primas da polifonia.

95 TESES DOUTRINAIS DE MARTINHO LUTERO 18
CANTOS GREGORIANOS19

O canto gregoriano é a mais antiga manifestação musical do Ocidente e tem suas raízes nos cantos das antigas sinagogas, desde os tempos de Jesus Cristo. Os primeiros cristãos e discípulos de Cristo foram judeus convertidos que, perseverantes na oração, continuaram a cantar os salmos e cânticos do Antigo Testamento como estavam acostumados, embora com outro sentido. à medida que os não-judeus gregos e romanos foram também se tornando cristãos. Elementos da música e da cultura greco-franco-romana foram sendo acrescentados às canções judaicas.
O período de formação do canto gregoriano vai dos séculos I ao VI, atingindo o seu auge nos séculos VII e VIII, quando foram feitas as mais lindas composições e, finalmente, nos séculos IX, X e XI, princípio da Idade Média; começa, então, sua decadência.
Seu nome é uma homenagem ao papa Gregório Magno (540-604) que fez uma coletânea de peças, publicando-as em dois livros: o Antifonário, conjunto de melodias referentes às Horas Canônicas, e o Gradual Romano, contendo os cantos da Santa Missa. Ele também iniciou a "Schola Cantorum" que deu grande desenvolvimento ao canto gregoriano.
O canto gregoriano é um gênero de música vocal monofônica, monódica (só uma melodia), não acompanhada, ou acompanhada apenas pela repetição da voz principal com o organum, com o ritmo livre e não medido, utilizado pelo ritual da liturgia católica romana, a ideia central do cantochão ocidental.
As características foram herdadas dos salmos judaicos, assim como dos modos (ou escalas, mais modernamente) gregos, que no século VI foram selecionados e adaptados por Gregório Magno para serem utilizados nas celebrações religiosas da Igreja Católica.
Somente este tipo de prática musical podia ser utilizada na liturgia ou outros ofícios católicos. Só nos finais da Idade Média é que a polifonia (harmonia obtida com mais de uma linha melódica em contraponto) começa a ser introduzida nos ofícios da cristandade de então, e a coexistir com a prática do canto gregoriano.




 MISSA20

Relativamente à missa, esta constitui uma obra dividida em 5 partes, cada uma correspondente aos textos litúrgicos Kyrie, Glória, Credo, Sanctus e Agnus Dei (Ordinário). Esta estrutura corresponde a uma missa padrão, mas pode ser alterada. A título de exemplo, se fosse uma missa ferial, faltavam-lhe o Glória e o Credo; e se fosse uma missa de réquiem, para além do Ordinário, a composição musical seria mais completa, ou seja, incluir-se-íam Introito, Gradual, Sequência. Ofertório e Comunhão.
A forma musical da missa não é originária do Renascimento. O seu aparecimento data do princípio do século XIV, mas foi naquela época que ela assumiu um grande relevo, sendo bastante numerosa a sua produção, por conta da freqüência e da importância que lhe era atribuída na sociedade de então. Nela é visível a evolução do estilo musical renascentista e maneirista, no caso português, variando entre a dominação do Cantus Firmus de uma determinada voz e o estilo Imitativo.
A nível musicológico, a missa renascentista pode ser caracterizada de 3 formas:
1.   Missa Cíclica: prevalecia um mesmo tema ou um mesmo processo estilístico em todas as partes, unificando-as num todo bem identificado.
2.   Missa paródia: o compositor citava uma melodia polifônica pré-existente, apenas uma parte ou a totalidade que, geralmente, era um moteto, mas podia ser igualmente uma composição polifônica profana.
3.   Missa paráfrase ou temática: de forma geralmente cíclica, o compositor adaptava uma melodia também pré-existente, que podia ser aproveitada do Canto Gregoriano (cantus firmus), embora muito alterado; podia também adaptar também uma canção profana, que por sua vez dava o nome à missa, como foi o caso da Missa de L’homme arme. Esta podia ser cantada em várias vozes alternadas ou imitadas, ou o compositor podia optar por privilegiar uma só voz: a Tenor (Missa Tenor) ou  Soprano (Missa Discante).






MOTETO21

Esta forma musical também não é especificamente originária do Renascimento, mas se enquadra neste período porque o moteto renascentista distingue-se claramente da forma medieval anterior, comungando apenas do nome.
Não contrariando a corrente musical de então, o moteto sempre se inseriu na polifonia, onde cada voz correspondia a um texto, havendo por vezes sobreposição de textos em várias línguas ou até de textos sacros e profanos.
Este tipo de moteto perdurou até o século XV, mas com a Ars Nova, ele passou a privilegiar a simplicidade e a eliminação da simultaneidade de textos, entrando em ruptura com a sua forma anterior. Deste modo, o moteto renascentista cracteriza-se como uma composição sacra, que incide sobre textos bíblicos ou litúrgicos em latim, de forma livre e breve. Esse é um motivo por que a definição de moteto pode englobar outras formas de música sacra, como as antífonas, os salmos, os hinos e os responsórios.


LIED22

De origem alemã, é uma peça vocal para uma voz, geralmente acompanhada ao piano e que pretende valorizar mais o poema que a música em si. No entanto, é necessário distinguir o volkslied (canção popular) do hoflied (canção cortesã), que surgiu em meados do século XVII. No âmbito deste trabalho, é importante referir que Orlando de Lassus foi um dos compositores mais importantes no cultivar o gosto pela música renascentista na Alemanha, quando da sua estadia na corte d Munique.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E ELETRÔNICAS

LIVROS
BORGES, Maria José, CARDOSO, José Maria Pedrosa. História da Música, Edições Sebenta.
PROENÇA, Graça. História da Arte, São Paulo, Ática, 1995.
PRATER, Andreas; BAUER, Hermann. Barroco. London, Laschen, 2007.
GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V. História da Música Ocidental. Lisboa, Gradiva Publicações, 1994
Artigo publicado por Manuel Augusto Araújo

INTERNET
BRAGA, Henriqueta Rosa Fernandes. Do coral e sua projeção na história da música, Kosmos Editora, Rio de Janeiro, 1985.

HODEIR, André. As formas da Música, Editora Arcádia, Lisboa, 1970, 192 p.
Artigo publicado em: www.neh.no.sapo.pt/.../musica_renascentista.htm


 


3 comentários:

Fábio de Melo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Creio que tenha poucas coisas na internet tão bem publicadas e ricas como esse post. Parabéns!

Unknown disse...

Estudar a história da música faz com que a gente veja o mundo com uma riquíssima "trilha sonora" de significados! Excelente post!