sábado, 13 de agosto de 2011

Cláudio Monteverdi



Claudio Monteverdi (1567-1643), natural de Cremona na Itália, teve uma infância um pouco instável. Aos nove anos perdeu sua mãe, e seu pai atuava na área da medicina, atividade ainda ilegal na época. Apesar de algumas adversidades familiares, Monteverdi conseguiu obter uma boa educação musical com Marc'Antonio Ingegneri (1547-1592). Sua carreira musical começou cedo, quando tinha ainda apenas 15 anos, com publicação de um motete, e com 16 anos publicando o primeiro livro de madrigais da série de nove livros que escreveu.
Apesar de boa parte de suas obras terem sido perdidas ao longo do tempo, é possível estudar a evolução desse compositor através de suas coleções de madrigais. Estes livros de madrigais ocasionaram um longo período de controvérsias entre Monteverdi e o teórico Giovanni Maria Artusi (1540-1613). A partir daí, Monteverdi ficou conhecido como expoente da moderna abordagem da harmonia e da expressão musical do texto. O gênero de música Madrigal, veio do período Renascentista, na Itália. Eram composições com temáticas amorosas e eram escritas a partir de poemas. Os madrigais escritos por Monteverdi, destacaram-se pela expressividade e pela semelhança com as óperas que escrevia. Monteverdi chegou ainda a escrever madrigais cênicos.
Monteverdi começou ainda jovem a trabalhar o gênero do madrigal, e apresentou seus primeiros resultados na sua segunda coleção de obras publicadas, Madrigali spirituali a quattro voci (1583), todos em vernáculo e com texto profano. Influenciado pelo ambiente religioso de Cremona, cuidadosamente selecionou poesias que contivessem um fundo moralizante ou devocional, e se destinassem à edificação piedosa do público. Uma inclinação mais direta para o mundo profano só apareceu na coletânea Madrigali a cinco voci, publicada em 1587, que trata de uma variedade de assuntos, desde o lirismo pastoral até alusões eróticas, que estavam em voga no ambiente cortesão onde trabalhava. Essa tendência foi ainda
mais acentuada com a popularização da lírica de Petrarca no início do século XVII, que logo se tornou um favorito entre as cortes ilustradas da Itália, fazendo florescer uma tradição de elogio do amor cortês que com o passar dos anos permitiu, assimilada por outros autores, a penetração de grandes doses de erotismo, pathos e todos os excessos sentimentais que fizeram a transição do Renascimento para o Maneirismo e deste para o Barroco, e possibilitaram uma música com grande variedade de efeitos melódicos, rítmicos, estruturais e harmônicos. Essa temática profana possibilitava a exploração de uma gama de afetos impensável na música sacra, dando espaço também para pesquisas estilísticas de caráter marcadamente individual.
Uma grande inclinação para a dramatização do texto já começa a aparecer em seu Secondo libro de madrigali a cinque voci (1590). Para dar um ar de realidade da ação há um uso original de silêncios e repetições, já mostrando suas capacidades como criador de atmosferas sugestivas. Já no Terzo libro de madrigali a cinque voci (1592) o compositor começa a explorar passagens em solo e repetições de notas sequencialmente, deixando assim o caráter do texto acentuado. A coleção se revelou um sucesso, tanto que rapidamente ganhou várias edições – 1594, 1600 e outros anos adiante. Mais um avanço veio com a coleção seguinte (1603), pois embora haja uma predominância da escrita contrapontística, as vozes inferiores apresentam uma tendência de apenas suprir a base harmônica, cabendo à voz superior conduzir o desenvolvimento melódico principal. Também usou em algumas peças cromatismos ousados. O Quinto libro de madrigali a cinque voci (1605) já começa a ter característas do Barroco: seis das suas peças já exigem expressamente um baixo contínuo de apoio, que pode ser usado ad libitum em todas as demais, e o seu caráter geral já aponta para a ópera. No seu Sesto libro de madrigali a cinque voci, con uno dialogo a sette (1614) a forma do madrigal mal pode ser reconhecida, e parecem verdadeiras cenas líricas
No inicio do período barroco, Monteverdi, em suas viagens, obteve uma larga influência em seu desenvolvimento artístico dos compositores franceses e suas respectivas técnicas e estilos. Com isso, segundo irmão de Monteverdi, ele “se utilizou da maneira francesa de escrever para vozes no novo estilo que tem sido muito admirado nos últimos três ou quatro anos, quer como acompanhamento de palavras dos motetes e madrigais, quer como canções e árias”. Esse novo estilo citado pelo irmão de Monteverdi é mais gracioso e límpido, foi ainda acrescentado ainda no marigal solos muito bem trabalhados com ótimos acompanhamentos instrumentais, o que ocasionou o abandono de seu tradicional estilo a cappella. Monteverdi progrediu tando com seus madrigais que após a sua morte não houve alguém que conseguisse dar continuidade e o madrigal entrou em declínio.
Ao longo de sua carreira no processo de desenvolvimento dos madrigais, Monteverdi teve problemas com o teórico Artusi (um dos mais importantes teóricos da época). Artusi havia feito um ataque ofensivo a Monteverdi, com críticas ao modo no qual Monteverdi tratava as dissonâncias. No entanto, Monteverdi respondeu a Artusi em seu quinto livro de madrigais (1605) para que Artusi soubesse que seus madrigais não eram escritos ao acaso, e que essa seria uma nova maneira de compor chamada de Seconda Pratica.
Prefácio do quinto livro de madrigais:
“STUDIOSI LETTORI.
Não vos admireis por eu dar à estampa estes madrigais sem antes responder às oposições que fez Artusi a algumas breves passagens deles, porque estando eu ao serviço de Sua Serena Alteza de Mântua, não sou senhor do tempo de que precisaria para tal. Porém, escrevi uma resposta, para que se saiba que não faço as coisas ao acaso, e, assim que estiver revista, virá a lume, trazendo no frontispício o título Seconda Pratica overo Perfettione Della Musica Moderna. Alguns acharão isto estranho, não acreditando que exista outra prática para além da ensinada por Zarlino. Mas a esses posso garantir, a respeito de consonâncias e dissonâncias, que há outra forma de as considerar diferente dessa já determinada, que defende a moderna maneira de compor com o assentimento da razão e dos sentidos. Quis dizer isto tanto para que outros se não apropriassem da minha expressão "seconda pratica" como para que os homens de inteligência pudessem considerar outras reflexões em torno da harmonia. E acreditai que o moderno compositor constrói sobre alicerces de verdade. Sede felizes.”
Em relação as obras cênicas, a obra Il Combattimento di tancredi e Clorinda (O combate entre Tancredo e Clorinda) publicada em seu oitavo livro de madrigais (1638), trata-se de um combate entre dois amantes, que vestidos com armaduras de guerra não se reconhecem e lutam até a morte de Clorinda. Essa obra cênica foi importante pois nela Monteverdi introduziu o stile concitato na orquestra, junto com o pizzicato e instruções de performance como o morendo, decrescendo e o ritardo, fazendo o uso destes de acordo com o que acontecia em cena. A obra causou uma tal reação de transtorno na platéia que não houve aplauso.
Relações de madrigais por cada livro publicado:
Livros Madrigais
Livro 1 (1587) Ch’ami la vita mia Se per avervi, ohimè A che tormi il ben mio Amor, per tua mercè Baci soave e cari Se pur non mi consenti Fille cara ed amata Poichè del mio dolore Fumia la pastorella Se nel partir da voi Tra mille fiamme Usciam, ninfe, omai Questa ordì il laccio La vaga pastorella Amor s’il tuo ferire Donna sio miro voi Ardo, sì, ma non t’amo
Livro 2 (1590) Non si levava ancor l’alba novella E dicea l’una sospirando allora Bevea Fillide mia Dolcissimi legami Non giacinti o narcisi Intorno a due vermiglie e vaghe labra Non sono in queste rive Tutte le bocche belle Donna, nel mio ritorno Quell’ombra esser vorrei S’andasse Amor a caccia Mentr’io mirava fiso Se tu mi lassi, perfida, tuo danno Ecco mormorar l’onde La bocca onde l’asprissime parole Dolcemente dormiva la mia Clori Crudel, perché mi fuggi? Questo specchio ti dono Non m’è grave il morire Ti spontò l’ali, Amor, la donna mia
Cantai un tempo e se fu dolce il canto
Livro 3 (1592) La giovinetta pianta O come è gran martire Sovra tenere erbette O dolce anima mia Stracciami pur il core O rossignuol Se per estremo ardore Vattene pur crudel O primavera Perfidissimo volto Ch’io non t’ami cor mio Occhi un tempo mia vita Vivrò fra i miei tormenti Lumi miei cari Rimanti in pace
Livro 4 (1603) Ah, dolente partita Cor mio, mentre vi miro Cor mio, non mori? E mori! Sfogava con le stelle Volgea l’amima mia soavemente Anima mia, perdona Che se tu sei il cor mio Luci serene e chiare La piaga c’ho nel core Voi pur da me partite A un giro sol Ohimè, se tanto amate Io mi son giovinetta Quell’augellin che canta Non più Guerra, pietate Sì, ch’io vorrei morire Anima dolorosa Anima del cor mio Longe de te, cor mio Piagne e sospira
Livro 5 (1605) Cruda Amarilli O Mirtillo, Mirtill’anima mia Era l’anima mia Ecco, Silvio, colei Ch’io t’ami Che dar più vi poss’io? M’è più dolce il penar per Amarilli Ahi, come a un vago sol cortese giro Troppo ben può questo tiranno Amore!
Livro 6 (1614) Lamento d’Arianna Zefiro torna el bel tempo rimena Una donna fra l’altere A dio Florida bella Sestina Lagrime d’Amante al Sepo
Ohimè il bel viso Qui rise Tirsi Misero Alceo Batto qui pianse Ergasto Presso un fiume tranquillo
Livro 7 (1619) Symphonia – Tempro la Cetra Ohimè, dov’è il mio ben Ah, che non si conviene Vaga su spina ascosa Se i languidi miei sguardi Chiome d’oro Interrotte speranze Tu dormi? Ecco vicine, o bella Tigre Non è di gentil core Eccomi pronta ai baci Soave libertate Vorrei baciarti, o Filli Se’l vostro cor, Madonna A quest’olmo Con che soavità Parlo, miser, taccio? Perché fuggi tra salci Augellin O come sei gentile Se pur destina Amor che deggio far Non vedrò mai le stele Io son pur vezzosetta Al lume delle stele Tornate, o cari baci O viva fiamma Dice la mia bellissima Licori Tirsi e Clori. Ballo
Livro 8 (1638) Sinfonia Altri canti d’Amor Hor che ‘l ciel e la terra Gira il nemico insidioso Se vittorie sì belle Ogni amante è guerrier Combattimento di Tancredi e Clorinda Ardo, avvampo, mi struggo Armato il cor Introduziona al Ballo: Vorgendo il ciel Ballo: Movete al mio bel suon Altri canti Marte Vago augelletto che cantando vai Mentre vaga Angioletta Ardo e scoprir, ahi lasso Dolcissimo uscignolo
Chi vuol haver felice e lieto il core O sia tranquillo il mare Lamento della Ninfa Ninfa, che scalza il piede Perché t’en fuggi, o Fillide Non partir ritrosetta Su, su, su, pastorelli vezzosi Ballo delle Ingrate
Livro 9 (1651) Bel pastor Zefiro torna Alcun non mi consigli Di far sempre gioire al tuo seno Non voglio amare Com’è dolce oggi l’aruretta Alle danze, alle gioie Perché se m’odiavi Sì, su, pastorelli vezzosi O mio bene, o mia vita
Monteverdi foi o último dos grandes compositores polifonistas, mas os seus últimos madrigais tendem para a música dramática do período Barroco. Ele foi um dos responsáveis pela passagem da tradição polifônica do Renascimento para um estilo mais livre, dramático e dissonante, baseado na monodia e nas convenções do baixo contínuo e da harmonia vertical, que se tornaram as características centrais da música dos períodos seguintes, o Maneirismo e o Barroco.
Montevedi faleceu em 29 de novembro de 1643 devido a uma breve doença, diagnosticada como uma “febre maligna”. Recebeu um funeral grandioso na Basílica de São Marcos, com grande afluência de público, e seus corpo foi sepultado na Basílica de Santa Maria Gloriosa dei Frari, onde lhe foi erguido um monumento.
Partituras livres de Claudio Monteverdi (em inglês) na Biblioteca Coral de Domínio http://www2.cpdl.org/wiki/index.php/Claudio_Monteverdi 

Adonnay Reis de Oliveira Júnior
Adalberto Andrade Soares






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FABBRI, Paolo. Monteverdi, (Translated by Tim Carter) Edizioni di Torino, Turin 1885 and E. D. T. Edizioni di Torino.
KURTZMAN, Jeffrey G. The Monteverdi Vespers of 1610: music, context, performance. Oxford University Press, 1999. pp. 1-9; 101-102; 163-164
STANLEY, John. Os grandes compositores e suas obras-primas. Portugal, Grupo Bioty. 1995.
EWEN, David. Maravilhas da música universal. Porto Alegre, Editora Globo. 1959. Vol2.
MENEZES, Enrique. Monteverdi – Mestre de um drama falho. Salvador, XVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação (ANPPOM). 2008. Disponível em: http://www.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2008/comunicas/COM344%20-%20Menezes.pdf
RICARDO, Francisco Manuel Ramos. Claudio Monteverdi. Musicantiga. http://musicantiga.com.sapo.pt/Musicantiga-Monteverdi.htm. Acesso em 02/07/2011
WIKIPEDIA. Il combattimento di Tancredi e Clorinda. Wikipédia – A enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Il_combattimento_di_Tancredi_e_Clorinda (texto com referências bibliográficas). Acesso em 02/07/2011.

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