sábado, 13 de agosto de 2011

Escola de Notre Dame nos séculos XII e XIII



Há um tratado, dos anos setenta do séc. XIII, atribuído a um homem conhecido pelos estudiosos como Anônimo IV. Este tratado fala sobre os modos rítmicos, a notação do ritmo e também sobre a consonância. Neste tratado, o intervalo de terça era considerado dissonância - exceto na Inglaterra. É do Anônimo IV a lembrança de compositores como Léonin e seu sucessor Pérotin. Atribui-se a Pérotin a composição dos organa a quatro vozes mais antigos da história da música. As composições Viderunt Omnes (http://www.youtube.com/watch?v=gtkmnhnHWhw) e Sederunt Principes (http://www.youtube.com/watch?v=xtnjyH05Yek&feature=related), datadas do final do século XII.
Com Léonin e Pérotin o organum atingiu um novo patamar de complexidade e refinamento. Eles tiveram numerosos alunos anônimos que deixaram muitas obras e que são designados pelo nome genérico de Escola de Notre Dame
A história da Escola de Notre Dame começou na segunda metade do século XII, quando descobriu-se em Paris o Magnus Liber Organi, sobre música para celebração eclesiástica na catedral de Notre Dame.
O manuscrito original desse livro se perdeu a muito, porém copias foram descobertas na Espanha, Portugal e Itália com pequenas diferenças apenas. Jean de Garland em 1240 e outro anônimo, em 1275, revelam que o grande livro de organum foi primeiramente compilado pelo Mestre Léonin e posteriormente revisado pelo seu sucessor Pérotin, o Grande. A especialidade de Léonin era um estilo harmônico relativamente livre de duas ou três vozes.
Leonin, ou Leoninus (Paris, c. 1135-c. 1201), foi um compositor francês a quem a história reserva o papel de ser um dos fundadores da escola de Notre Dame. Lamentavelmente, a única referência escrita a um músico chamado Léonin foi registrada mais de um século após sua morte por um monge britânico anônimo, que o descreveu como “o maior compositor de organum para amplificação do serviço divino”.
Consta que Léonin teria sido professor, administrador, poeta e cônego na nova catedral de Notre Dame. Atribui-se a ele a criação do Magnus Liber Organi, o Grande Livro de cânticos usado em Notre Dame no final dos anos 1100. Este livro foi, mais tarde, editado por Pérotin, e dele derivam as fundações da ideia de harmonia e escrita composicional.
Léonin trabalhou, principalmente, nas composições a duas vozes, mas Pérotin expandiu a técnica do organum para incorporar uma terceira e às vezes uma quarta voz e ampliou as ornamentações das vozes superiores de modo a obliterar, na prática, a percepção da melodia gregoriana do tenor, fazendo com que suas notas prolongassem desmedidamente e funcionassem mais como pontos de pedal. A forma como as vozes superiores eram tratadas já caracterizava a polifonia, além de suas relações intervalares servirem de base para a moderna noção de harmonia.
Pérotin (c. 1160-c. 1236) foi um compositor nascido na França, que fez parte da escola de Notre Dame. Não se tem biografias acerca deste compositor genial. Desempenhou funções análogas de mestre de capela entre 1180 e 1230, aproximadamente.
Pérotin, primeiro compositor conhecido de música com mais de duas partes independentes, é uma figura frustrantemente sombria. É mencionado em documentos do fim do séc. XIII como quem editou e aprimorou o Magnus Liber Organi de Léonin, o livro de música de Notre Dame. Provavelmente trabalhou com Phelippe, o Chanceler, cujos textos musicou (em obras como Beata Viscera-http://www.youtube.com/watch?v=J0KX_Wr_kAo&feature=related), e pode ter composto no gênero emergente do moteto. Mas foi certamente um pioneiro, com suas partituras em quatro partes de textos latinos mostrando alguns toques de modernidade.
Há três estilos marcantes na escola de Notre Dame: o organum, o conductos e o motete. Aquele foi um período florescente para a música francesa, pois a música evoluiu do dueto para o quarteto, com vozes horizontalmente independentes, mas que, verticalmente, combinavam-se criando o que chamamos de harmonia.
Uma interessante novidade aparece no organum, por volta de 1140 em Saint-Martinal: a cada nota da voz principal, correspondem, a partir de então, não mais uma, porém várias notas da voz organal, que ficou conhecido como organum de vocalises ou florido. A flexibilização da voz organal foi beneficiada pelo emprego do movimento contrário e a recente promoção da terça e da sexta a categoria de “consonâncias imperfeitas”.
A voz principal era agora chamada tenor, a voz organal torna-se o duplum, ao qual se soma por vezes um triplum e até um quadruplum (organa a quatro vozes ou quádrupla). O tenor fica no grave e alonga suas notas para dar ao duplum o tempo de desenrolar seus melismas, aproximando-se do que chamamos hoje de baixo pedal. Isto era o organum, embrião da harmonia moderna. O conceito de consonância e a ideia da vox organalis acrescentada a uma melodia preexistente (vox principalis) foram fundamentais ao desenvolvimento do organum.
O tenor de Pérotin era estruturado numa série de motivos rítmicos idênticos e reiterados. Estes tenores produzem um efeito nítido de agrupamento binário em dois ou múltiplos de dois compassos. Além disso, a melodia do tenor de Pérotin tinha muitas vezes de ser repetida na totalidade ou em parte para dar ao trecho a duração que se desejava.
Uma importante inovação de Pérotin e seus contemporâneos foi a expansão do organum de duas vozes (duplum) para três e quatro vozes, triplum e quadruplum respectivamente.
Num organum de Pérotin, após uma parte inicial de organum purum, temos uma ou mais partes de descante, onde o tenor é mensurado. À medida que a composição avança, as seções baseadas em notas sustentadas entrelaçam-se e alternam com seções em estilo descantes baseadas em notas sustentadas correspondentes às partes mais silábicas do cantochão.
Outra herança da escola de Notre Dame foi o conductus. Original, sem tenor litúrgico, o conductus polifônico comporta duas, três ou quatro vozes, das quais nenhuma tem valores longos; todas têm o mesmo texto e o mesmo ritmo. A partir de 1240 aproximadamente, encontramos nos conductos exemplos de contraponto reversível, cujos temas tratados, na maioria das vezes, são extraídos da atualidade.
Data daquela época, também, a proliferação do moteto ou motete, que consistia na introdução de textos em vernáculo, convertidos em profanos na língua vulgar.
Uma das características do estilo de Léonin era a justaposição de elementos antigos e novos, alternando passagens de organum com o ritmo mais animado do descante. O século XIII avançava e o organum purum foi sendo abandonado, as clausulas começaram a se transformar em peças quase independentes, acabando por dar origem a uma nova forma, o motete.
O motete floresceu no séc. XIII no norte da França. Foi uma das formas sacras mais importantes da idade média tardia, e gradualmente abriu caminho para a estrutura polifônica do Ordinário da missa (as partes da missa que se repetem todos os dias). Na segunda metade do séc. XIII, seu tema será tirado frequentemente de danças e canções profanas. As vozes superiores são inicialmente cantadas com texto diferentes, religiosos e parafraseando em latim o texto do tenor, depois profanos e em língua vulgar. Durante um século e meio os motetos serão mais profanos do que sacros.
No decorrer do século XIII foi sendo feita uma distinção entre organum, em que a vox organalis forma melismas sobres as notas sustentadas da vox principalis, e descante, onde ela forma um contraponto mais ou menos estrito nota-contra-nota. No tipo melismático a vox principalis tornou-se a voz principal. A extensão desses melismas, relativamente curtos, marca as realizações da escola de Notre Dame (especialmente Léonin e Pérotin), conforme representado no Magnus Liber (c. 1170). Esse livro também mostra que, perto do século XII, o organum melismático foi sendo superado pelo descante, introduzindo o ritmo modal. O organum melismático não modal (organum puro) desapareceu, e foi substituído por um em que o ritmo modal era cultivado na voz superior melismática. O ritmo modal abriu novas possibilidades para música em três e quatro vozes, e acabou sendo responsável pela transformação em polifonia mensural ou ritmicamente mensurada, ao que chamamos modernamente de harmonia, reiteramos. 


Rebeca da Silva Leitão



Referencias Bibliográficas


BURROWS, John, Guia Ilustrado Zahar Música Clássica, 3° edição, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2006.
CANDÉ, de Roland, História Universal da Música, Vol. 1,São Paulo, Martins Fontes, 2001.
GRIFFITHS, Paul, Breve Historia de la Musica Ocidental, Madrid – Espanha, Akal, 2009.
SADIE, Stanley, Dicionário Grove de Música, 1° edição, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1994.
GROUT, Donald J., Palisca Cláudio V., 5° edição, Portugal, Gradiva, 2011.













Links
Vídeos http://www.youtube.com/watch?v=J0KX_Wr_kAo&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=j3sCCdcN5aw&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=_-xyjRys4lM&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=COKDFEXaimg&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=2hMvf4EyFkA&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=Q3Oang-dKU0&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=gjyAYtUwKfk&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=j3sCCdcN5aw&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=gtkmnhnHWhw http://www.youtube.com/watch?v=xtnjyH05Yek&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=SYZkguH4asY&feature=related



Partituras
http://erato.uvt.nl/files/imglnks/usimg/0/00/IMSLP55555-PMLP113838-Perotinus_Sederunt_principes_PML.pdf http://216.129.110.22/files/imglnks/usimg/2/2a/IMSLP30838-PMLP70211-Perotinus_Viderunt_omnes_PML.pdf

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