Origem
O Motete é um gênero musical polifônico surgido no século XIII. Seu nome é derivado do termo mot, que significa palavra em francês. No Motete cada voz canta um texto diferente.
O Motete teve origem na França dentro de suas igrejas, destinado, portanto, exclusivamente ao serviço religioso. Naquele período, os hinos litúrgicos eram cantados em Latim utilizando apenas uma voz (voz conhecida por tenor ou a voz que canta o cantus firmus ou cantochão). Posteriormente, uma segunda voz, ainda sem texto, foi adicionada acima da voz do cantus firmus. A esta segunda voz deu-se o nome de duplum.
Leonin que era músico e cônego da Catedral de Paris, Notre Dame foi quem iniciou a produção de cláusulas em estilo de descante. “O tenor canta agora um ritmo rigorosamente medido; a voz aguda, que evolui em notas ainda mais rápidas, ganha também um caráter mais marcadamente rítmico. Ambas as vozes cantam notas de duração exata..o estilo no qual todas as vozes têm um ritmo certo veio a ser designado de descante.” (Grout & Palisca , 2005, p. 107)
O sucesso das cláusulas de Leonin incentivou vários compositores da época a criar muitas outras cláusulas, servindo de alternativas ou mesmo substituindo as cláusulas de Leonin. “Estas cláusulas de substituição eram permutáveis; podiam escrever-se, cinco ou mesmo dez, utilizando o mesmo tenor, e de entre estas o mestre de coro podia escolher qualquer uma para determinada ocasião.” (Idem, p. 116)
Perotin, que parece ter sido discípulo de Leonin, deu continuidade na criação de cláusulas de substituição, na mesma igreja de Paris.
Uma inovação logo após a adição do duplum foi a criação de textos para esta voz. Assim tinham-se duas vozes cantando simultaneamente textos diferentes por vezes até em línguas diferentes. Possivelmente devido à utilização de texto na cláusula de substituição, este gênero recebeu o nome de Motete, pois representava o texto ou a palavra cantada pelo duplum.
Posteriormente uma terceira voz o triplum foi adicionada à estrutura do Motete. Esta geralmente escrita em um ritmo mais rápido e com o texto eventualmente em francês.
Quanto aos textos empregados na voz do tenor, normalmente eram extraídos de cláusulas do Magnus Liber. Desta forma o texto do tenor era extremamente pequeno, chegando a uma única palavra ou até mesmo parte de uma palavra.
O Magnus Liber Organi era um manuscrito contendo peças de organum (antecessor do Motete). Ele foi escrito entre os séculos XII e XIII. Tendo suas composições atribuídas aos mestres da Escola de Notre Dame, entre os quais têm-se Leonin e Perotin.
Inicialmente os motetes foram escritos voltados para ambientes religiosos, devido a isto a razão do uso do latim na composição dos motetes. Contudo com o desenvolvimento de motetes fora da igreja, passou-se a empregar o uso da língua francesa na escrita de motetes seculares.
Eventualmente, mais tarde, os motetes passam a ser escritos com outras finalidades, tais como a de exaltar as qualidades e virtudes de reis e lideres. Como os motetes da Capela Real da França de Luis XIV. “Assim não é nenhuma surpresa que Pierre Perrin abriu seu famoso Cantica pro capella Regis com a ‘Canção para o rei’. Consequentemente, como Herbert Scheneider relembrou ‘O Grand Motet era um instrumento educacional e político’, que estava associado ao esplendor absoluto da monarquia”.
(Montagnier. RILM Music Literature(Ebsco).
Foram escritos milhares de motetos em toda a Europa no século XIII. Logo surgiram obras catalogando os diversos motetos compostos. Entre as obras que chegaram até aos dias atuais estão: O Códice de Montpellier que reune 336 composições polifônicas, em sua maioria motetos; O Códice de Bamberg, composto por 108 motetos e o Códice de Las Huelgas.
Foram escritos milhares de motetos em toda a Europa no século XIII. Logo surgiram obras catalogando os diversos motetos compostos. Entre as obras que chegaram até aos dias atuais estão: O Códice de Montpellier que reune 336 composições polifônicas, em sua maioria motetos; O Códice de Bamberg, composto por 108 motetos e o Códice de Las Huelgas.
Visto que um moteto era composto por mais de uma letra. A forma para nomear-lo era utilizando o incipit, como em Aucun vont – Amor qui cor - Kyrie. Geralmente, também os motetos eram de autoria anônima, pois havia um grande reaproveitamento ou readaptação de músicas antigas em letras novas ou músicas novas em letras antigas, bem como a substituição de vozes eram bastante comuns.
“a forma habitual de identificar um motete é pelo título composto, que inclui o incipit (a primeira ou primeiras palavras) de cada uma das vozes”. (Grout & Palisca, ob. cit. p.116).
A Isorritmia
Em suas experiências pela Idade Média, o Motete passou pelo período da Ars Nova, no século XIV, com uma característica estrutural importante que foi a utilização da isorritmia principalmente na voz do tenor e algumas vezes nas demais vozes também.
A Isorritmia trata-se de uma técnica musical em que uma seqüência rítmica se repete na mesma voz ou outra voz. A cada seqüência de rítmica denominou-se Talea.
Tenor isorrítmico da parte do Kyria da Missa de Notre Dame de Machaut, 1360.
A maior expressão dessa característica foi Guillaume de Machaut. Próximo do início do século XV, a isorritmia também ganha mais espaço em outras vozes, como em Veni Sancte Spiritus de Dunstaple ou como em Nuper de Dufay.
O auge com o Motete Imitativo dos séculos XV e XVI
Com Dunstaple e Dufay, o Motete passa a ser composto com um estilo mais simples e com texto único, chegando ao final do século XV a um padrão de composição jamais visto. Eram os motetes corais escritos em quatro ou mais vozes. Estas se movimentando semelhantemente. Contudo, neste período ainda é possível encontrar cantus firmus com notas longas como nos motetos de Josquim de Prez.
Após De Prez, a forma de movimentação semelhante entre as vozes se solidifica com os trabalhos de Gombert, Palestrina e outros compositores renascentistas como Lassus, Byrd e Victoria, dando origem ao motete imitativo. A esta geração de compositores dos séculos XV e XVI, deu-se o nome de Escola Franco-Flamenga, cujas as características renascentistas se fazem presentes na composição de seus motetes. Nesta época o Motete ainda é representado com um contraponto sobre um texto religioso. O tenor ainda canta as melodias do cantus firmus.
O motete imitativo, por conseguinte, teve grande número de composições. Suas melodias são oriundas de canções populares ou criadas pelo próprio compositor. Também nesta época ocorre a inclusão de uma voz abaixo da voz do tenor, chamada baixo. Com esta estruturação o Moteto alcança seu apogeu, sendo a principal forma e a mais utilizada. Como destaques desta época, têm-se os compositores Palestrina, Lasso e Victoria. Palestrina escreveu uns 250 motetes, Lassus duas vezes este número (incluindo um justa proporção de pedaços ocasionais) e Byrd publicou três coleções de Cantiones sacrae – um nome em latim dado ao motete. Assim, o Motete do século XV retorna às origens utilizando temas sacros, fazendo com que a forma isorrítmica caia em desuso.
Após o apogeu alcançado no XVI o Motete segue sendo composto por diversas escolas estilísticas produzindo obras com características distintas
Sanderson Monteiro Coelho
Referências bibliográficas
1. História da Música Ocidental, Grout, Donald. Palisca, Claude.
2. Grove Music. Portal de períodicos da Capes. http://.oxfordmusiconline.com/.
3. Rilm Music Literature (Ebsco). Portal de periódicos da Capes.
4. Bonds, Mark Evan. A History of Music inWestern Culture. New Jersey: Prentice Hall, 2003.
5. Hoppin, Richard H. Medieval Music. New York: W.W. Norton & Co, 1978.
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