Educação e Música: A visão de Platão

O homem é um ser essencialmente social. Tal característica demandou a elaboração de políticas e regras de conduta visando a garantia da vida harmônica em comunidade. Logo se percebeu que a educação é um elemento fundamental para a consolidação dessa harmonia, visto que é capaz de influenciar fortemente a construção da unidade cultural de um povo.

As reflexões acerca da educação remontam a períodos distantes. Na Grécia antiga, por exemplo, Platão, que viveu no período de 427-347 a.C., já questionava o tipo de educação proposta pelo Estado. Em sua obra A República, o filósofo deixa nítidas as bases de sua visão a respeito da educação.

Entre outros aspectos, na supracitada obra Platão sugere que se dê atenção especial à formação dos "guardiões", cuja função social é a defesa da cidade. O longo processo educativo que envolveria sua formação teria como pilares duas artes bastante valorizadas pelos gregos: a música e a ginástica.

Embora na Grécia antiga o foco da educação estivesse concentrada nos exercícios físicos, a educação espiritual não poderia ser menosprezada, uma vez que Platão considerava a alma superior ao corpo. O filósofo acreditava que a educação através da música contribuiria para a formação do indivíduo bom.

Este indivíduo, por sua vez, colaboraria para o desenvolvimento da cidade ideal, termo abordado pelo filósofo na obra A República. Daí surge a concepção platônica do mundo das idéias, condição a ser alcançada, segundo ele, pelos homens, para se apropriar de algo que está fora de si.

Essa conotação é defendida no livro Paidéia, de Werner Jaeger, no qual o autor apresenta o conceito platônico do termo, como sendo “a essência de toda a verdadeira educação”, capaz de formar um cidadão perfeito, alguém digno de ser verdadeiramente chamado de homem.

 No capítulo referente ao mito da caverna, integrante de A República, Luciana Ricomini comenta que tal mito deve ser visto pelo prisma epistemológico, relativo ao conhecimento imperfeito da realidade, e pelo prisma político, quando o homem consegue libertar-se das amarras e alcança o mundo das idéias, estando apto às atividades relacionadas à política.

O papel da educação e da sociedade consistiria em domesticar as paixões, de modo a constituí-las como arte, retirando o que dela se configurasse como entusiasmo e conservando a racionalidade. Platão reconhece, porém, que o Homem nunca estará completo sem a música. É ela capaz de proporcionar prazer e encorajamento em qualquer seguimento da sociedade.

Sob seu prisma, os exercícios físicos e a música são elementos essenciais para que se possa conquistar corpo forte e ideais de coragem, generosidade e cortesia. A música é ainda, segundo o filósofo, responsável pela lapidação dos sentimentos, e capaz de estabelecer a ordem pessoal e social.

Por conta disto, defende a liberdade para a criação musical, embora apontasse como elementos mais preparados para esta tarefa os filósofos, por serem conhecedores da verdade e, portanto, capazes de discernir entre música boa e música ruim, bem como seu uso no cumprimento de normas sociais.

O filósofo considerava que deveríamos encorajar a busca da excelência na música, por entendê-la como um dos principais meios de persuasão existente na sociedade. Através dela é possível transmitir não somente palavras, mas também sentimentos, idéias e ideais que podem ganhar grande repercussão didática se bem direcionada para, assim, formar melhores cidadãos.

Segundo Platão, a formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento eugênico da procriação que se baseia em condições que favoreçam a reprodução e melhoria da raça humana. O filósofo propõe, então, que a educação ocorra em cinco períodos, iniciando aos 3 anos de idade e abarcando também aos maiores de 21 anos.

Luciana Ricomini nos remete ao que conhecemos como utopia platônica, condição na qual a responsabilidade pela educação das crianças sairia da tutela dos pais e passaria a ser competência do Estado. Ao Estado caberia possibilitar o acesso universal à educação, com a mesma qualidade para meninos e meninas.

Ricomini apresenta um instrumento, idealizado por Platão, que enquadra os cidadãos em três níveis, nos quais recebem definições como alma de bronze, alma de prata e alma de ouro, de acordo com suas “aptidões” ou “pré-disposições” para ocupar dos mais simplórios aos mais importantes cargos sociais, conforme podemos verificar no quadro abaixo:

Alma de bronze	São os grosseiros, devem se dedicar à agricultura, ao comércio e ao artesanato.
Alma de prata	É a virtude da coragem. São guerreiros que cuidavam da defesa da cidade e a guarda do rei.
Alma de ouro	São instruídos na arte de dialogar e preparados para governar

Em síntese, todo o plano educacional proposto por Platão voltava-se especificamente para um único objetivo: a formação de um pequeno grupo de pessoas aptas a governar o Estado – a saber, filósofos, cuja capacidade de conduzir satisfatoriamente o Estado baseado na busca da Verdade só ocorreria graças ao sucesso do sistema educacional por ele proposto, que se concretizaria com a existência dos verdadeiros filósofos e dos verdadeiros políticos.

Melissa Muniz Felisberto

Caio Cesar Matos de Souza

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, R. J. de. Platão e a filosofia da educação. Disponível em:

< http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/platao.htm>. Platão. Acesso em: 23/05/2011.

POMBO, O. O método de ensino no estado ideal de Platão. Disponível em: < http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/academia/academia4.htm>. Método de ensino em Platão. Acesso em: 22/05/2011.

RIBEIRO, H. L. Papel da música na educação segundo Platão. Disponível em <http://www.hugoribeiro.com.br/textos/platao.pdf>. O papel da música na educação segundo Platão. Acesso em 23/05/2011

RICOMINI, L. O pensamento de Platão. Disponível em: <http://www.pedagogia.tripod.com/gregos.htm>. Educação grega. Acesso em: 22/05/2011

SILVA, S., MALINOSKI, J., RODRIGUES, R. A.  O bem como finalidade da educação em Platão. Disponível em: <http://www.ufsm.br/gpforma/2senafe/PDF/067e4.pdf>. O bem como finalidade da educação em Platão. Acesso em: 22/05/2011