Mozart (1756-1791), desde a infância, além de um virtuoso pianista e violinista, apresentou grande facilidade para a composição de obras musicais. Já aos seis anos de idade compôs seus primeiros minuetos, aos nove sua primeira sinfonia, aos onze sua primeira ópera. Assim, mesmo vivendo apenas 35 anos de idade, Mozart incorporou uma forma de composição mais intensa e significante que vários outros compositores da história da música, tais como seu contemporâneo Haydn.
Ao total são mais de 600 composições, as quais foram catalogadas e compiladas em 1862 por L. von Köchel, utilizando portanto a notação K. para a identificação das composições de Mozart, que é universalmente aceita[1].
Dentre as mais de 600 composições, 41 são sinfonias. Tais sinfonias, como outras formas de composições, manifestaram-se em Mozart por toda sua vida, da juventude até a maturidade, não tendo, portanto, período em que ele compunha apenas um gênero.
Entretanto, embora as sinfonias da juventude tenham inúmeros atrativos, são as obras da maturidade, as mais populares. As sinfonias n° 35, "Haffner" e nº 36 "Linz" são particularmente belas - esta última com a particularidade de ter sido composta em meros três dias. As duas últimas sinfonias, de n.40 em sol menor e a 41 em dó maior, "Jupiter" são precursoras do que viria a ser a grande sinfonia alemã do período romântico. Altamente recomendadas, não apenas por suas qualidades instrínsecas, mas por serem o apogeu de uma forma, a da sinfonia clássica - que seria rompida, poucos anos depois, por Beethoven.
Para compor, Mozart contou com a formação recebida do seu pai, Leopold Mozart, e também com influências musicais as quais foram absorvidas durantes as viagens realizadas pela Europa em sua juventude[2].
Desta forma em suas composições, incluindo as sinfonias, Mozart, utilizava de imitações de idéias de seus antecessores, mas ao mesclar com as suas, as melhorava, sofisticando-as notavelmente, como nas sinfonias K. 74, 85, 95, 112, 132, 162 e 182 que foram fortemente influenciadas pelos sinfonistas italianos, especialmente por Sammartini. Tais sinfonias foram compostas entre 1770 e 1773.
Entre outros compositores que influenciaram Mozart em suas primeiras produções sinfônicas, estão também Johann Christian Bach e Karl Friedrich Abel, estes também frutos das viagens realizadas por Mozart pela Europa.
Também neste período, tem inicio uma outra influência que se tornaria mais tarde uma das mais importantes nas composições de Mozart, que é a influencia do próprio Haydn, isto se dá em particular na sinfonia K. 113 de 1772.
A influência de Haydn sobre as composições de Mozart tornou-se mais importante após uma estada em Viena, em 1773. Pois foi nesta estada que Mozart reatou um contato com a música de Haydn. Foi a partir deste fato que Mozart produziu suas primeiras sinfonias consideradas obras-primas, tal como a sinfonia em Sol menor, K. 183. Tal sinfonia é um produto do movimento Sturm und Drang, que era bastante expressivo nas sinfonias de Haydn.
As sinfonias de Mozart, em certo grau, apresentavam um padrão estrutural uniforme: todas em três movimentos, sendo o primeiro movimento em andamento rápido em 4/4 e dividido em duas seções. Para o segundo movimento o andamento lento era constante, utilizando a forma binária com compassos 2/4. Para o terceiro movimento, era comum Mozart utilizar um rondó em andamento rápido em 3/8. Contudo, em algumas delas se encontram variações na forma básica da sinfonia. A partir da sinfonia K. 43 o minueto é introduzido como terceiro movimento e a forma com quatro movimentos se torna o padrão usual, os primeiros movimentos são menos regulares e na última do grupo é que aparece enfim a forma-sonata plenamente desenvolvida.
Nas sinfonias em que a forma-sonata se manisfesta plenamente, Mozart utiliza do artificio de contrastar os dois temas principais, ocasionando em um recurso expressivo e estrutural. O interesse pelo contraponto nesta fase também surge como mais um recurso técnico em suas composições. Entretanto deve-se ressaltar que as técnicas contrapontísticas não foram somente nesta fase dadas ao conhecimento de Mozart, pois ainda jovem, aos 16, ele teve aulas de contraponto com o padre Giovanni Battista Martini (1706-1784) em uma temporada em Bolonha. Martini em suas aulas utilizava um método até hoje bastante difundido na comunidade acadêmica, o Gradus ad Parnassum de Johann Joseph Fux[3].
Após o ano de 1774, Mozart praticamente não compôs novas sinfonias, apenas refez trabalhos de aberturas de óperas como sinfonias com a adição do finales. Só retomou ao gênero em 1779, produzindo diversas até 1780, com significativas variações formais.
Em 1783 escreveu a primeira com um primeiro movimento lento, depois K543, K550 e K551, que ressaltam em toda a sua produção, figurando entre as mais importantes e influentes sinfonias compostas em todo o século XVIII. Um fato também importante para a composição desta três últimas sinfonias está no tempo levado para concluir tais sinfonias, apenas seis semanas de 1788. Nestas sinfonias aparecem claramente a contribuição de Mozart para este gênero sinfônico: uma estrutura perfeitamente equilibrada e proporcionada, um vocabulário harmônico de grande riqueza, o uso de material temático com funções estruturais, e uma profunda preocupação com as texturas orquestrais, manifestada em especial na escrita altamente idiomática para os instrumentos de sopro, particularmente o clarinete e o corne francês, que atuam como apoio e ligação entre as cordas e as madeiras.
Abaixo um relação das sinfonias/ano compostas por Mozart:
k 16, (1765) | k 110/75, (1771) | k 182/173, (1773) |
k 19, (1765) | k 96/111, (1771) | k 183/173, (1773) |
k A223/19, (1765) | k 112, (1771) | k 201/186, (1774) |
k 22, (1765) | k 114, (1771) | k 202/186, (1774) |
k A221/45, (1766) | k 73, (1772) | k 200/189, (1774) |
k 43, (1767) | k 124, (1772) | k 297/300, (1778) |
k 45, (1768) | k 128, (1772) | k 318, (1779) |
k A214/45, (1768) | k 129, (1772) | k 319, (1779) |
k 48, (1768) | k 130, (1772) | k 338, (1780) |
k 81/73, (1770) | k 132, (1772) | k 385, (1782) |
k 97/73, (1770) | k 133, (1772) | k 425, (1783) |
k 95/73, (1770) | k 134, (1772) | k 504, (1786) |
k 84/73, (1770) | k 184/161, (1773) | k 543, (1788) |
k 74, (1770) | k 199/161, (1773) | k 550, (1788) |
k A216/74, (1770-71) | k 162 (1773) | k 551, (1788) |
k 75, (1771) | k 181/162, (1773) | Intro. p/ sinf. de M. Haydn |
Sanderson Coelho
Referências Bibliográficas
· Grout, Donald. Palisca, Claude. História da Música Ocidental. Ed. Gradiva. 2007.
· Christensen, Thomas. The Cambridge History of Western Music Theory. Imprensa da Univerdade de Cambrige, 2008.
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