segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Jean-Phillipe Rameau e sua importância para a música

  
            Jean-Philippe Rameau(1683-1764), nascido em Dijon, representa um ícone de grande importância no desenvolvimento da música. Possui uma história tão característica que não pode deixar de ser pontuada nos estudos relacionados ao sistema harmônico.
            Rameau constitui-se em um organizador dos fatos musicais, contribuindo sobremaneira para o estabelecimento não de um novo estilo musical,mas da necessária organização da complexidade da música.
            Era um artista completo e complexo, criticado como um vanguardista, escandaloso e anárquico; herdeiro da tradição francesa da ópera e resistente à ópera italiana. Rameau era tudo isso e, ao mesmo tempo, sendo indelével em contrastes: o antigo e o novo, o achado e o tradicional.
            Seus pais, Jean Rameau e Claudine Martinecourt bem que souberam estimular as vivências musicais e habilidades artísticas de Rameau. Porém ficou no anonimato até meados de seus 40 anos de idade, e, mesmo assim, foi como um teórico e mais tarde como músico compositor que seu nome veio a ser reconhecido no meio musical.
            Por ter carregado primeiramente a reputação de um cientista teórico que apenas escrevia sobre intervalos, escalas e acordes, era impossível de acreditar que alguém pudesse parar e ouvir uma composição que pudesse ser agradável aos ouvidos. Até mesmo Rameau tentou combater esse clichê posto em seu nome escrevendo uma carta em 1727 onde diz que em suas composições aprendeu a reproduzir as cores da natureza numa linguagem musical.
Sobre sua vida destaca-se que, quando criança, “Recebe uma educação geral sumária, que explica certo ‘amadorismo’ científico, a despeito de uma inteligência bastante viva. Estuda música com o pai e como autodidata” (CANDÉ, 2001,p. 581).
Em 1701,Rameau fez uma breve visita à Itália onde se tornou organista na Catedral de Avignon e Clermont-Ferrand onde em 1706 publicou um livro de peças para cravo. Três anos depois sucedeu seu pai na Catedral de Notre Dame. Em 1713 ocupou o cargo de organista em Lyon.
Em 1715 voltou a exercer novamente o posto de organista em Clermont-Ferrand onde passou a escrever o famoso Traité de l’harmonie piblicado em Paris, em 1722 que lhe conferiu o status de cientista. Casou-se com Marie- Louise Mangot em 1726 onde teve quatro filhos. Dois anos depois ocupou o cargo de Diretor de música de La Pouplinière onde deveria compor e ou preparar peças de teatro para festas, para os jantares, ou seja, música para todas as ocasiões especiais. Por vezes sua esposa que também era cravista, tocou as composições do marido nos concertos de La Pouplinière.
Pelo fato de Rameau querer tornar-se um grande compositor de ópera, escreveu entre 1733 e 1745 o que podemos dizer que seriam as obras primas do compositor:Les Indes Galantes,Castor et Pollux, Hippolyte et Aricie, Dárdanus, Les Fêtes d’Hébe, Platée. Os grandes admiradores da música de Lully ficaram escandalizados com a ousadia de Rameau em suas composições.
Rameau tornou-se compositor da Câmara do rei em 1745. Após a representação de Pygmalion em 1751, uma companhia de músicos italianos apresentou La Serva Padrona de Pergolesi formando logo um partido italianizante. A exemplo de outros importantes nomes da música, Jean-Philippe reconhece as notas musicais antes mesmo de reconhecer as letras (MASSIN, 1997).
Em sua teoria, Rameau partiu de um dos temas mais contestáveis que é o da perfeição da natureza onde a arte deve imitar a natureza. Pela ressonância de um corpo que soa, pode-se distinguir a oitava, a quinta e a terça maior do som fundamental e para encontrar os demais sons, Rameau considera cada harmônico como um novo som fundamental que já possui a terça e a quinta, ajudando a construir uma séria de quintas com base em cada um dos termos de uma série de terças. Sem a harmonia a melodia não pode existir.
Rameau chegou a ser ferinamente criticado por seus contemporâneos tais como Voltaire e Diderot. Acusado de secura e rigidez, salvava-se por “fogo, o ardor, o entusiasmo da inteligência, e, sem dúvida, uma maior sensibilidade do que ele deixava entrever” (MASSIN, 1997, p. 496).
            Destacando-se as obras,Rameau compôs trinta e duas obras de teatro, dentre os diversos gêneros, tragédias líricas, óperas-balés, óperas-cômicas. Além destas têm-se de autoria de Rameau cinco grandes motetos,sete cantatas profanas, cinco suítes de Pièces de clavecin em concerts, sessenta e duas peças para cravo, cerca de vinte escritosteóricos ou críticos (CANDÉ, 2001).
            A despeito de sua enfatizada inteligência (por alguns autores), Rameau não foi óbvio ao pensar em organizar o que chama de ‘confusão prodigiosa’ presente nos séculos anteriores.Isso porque ele foi o primeiro a “exercer a organização sobre a multiplicidade dos fatos musicais” e a “simplesmente por as coisas em ordem” (MASSIN, 1997, p. 493-494).
            Por ser pioneiro na organização musical Rameau configurou-se como um homem a seu tempo, realizando o irrealizável até então. Assim,
Pode ser evidente para nós, mas não o era, de maneira alguma, na época. Um som jamais é puro, ele é a combinação de um som fundamental com sons secundários que chamamos de “harmônicos”. O achado de Rameau consistiu em explorar até as últimas consequências o fato, comprovado empiricamente, de que o acorde perfeito maior constitui-se dos primeiros harmônicos naturais. Assim, toda a lógica da composição musical clássica vê-se fundada na razão (MASSIN, 1997: p. 494).

            Dizia-se de sua obra baseada no libreto do padre Pellegrin, intitulada Hippolyte et Aricie, que poderia originar dez outras de tão complexa e extensa, outros exigiam cortes por considerarem-na difícil e alguns ainda escandalizaram-se com suas ousadias (MASSIN, 1997).
Como artista extremamente talentoso acreditava-se fielmente que a qualidade de sua música compensaria suas más escolhas em relação aos libretistas nos quais baseava suas obras, o que alguns autores destacam como “a desgraça de Rameau” (MASSIN, 1997, p. 498).
Por razões como estas Rameau foi criticado e apontado, por fileiras de enciclopedistas, como um ‘sem cultura’, muito embora fossem indiscutíveis suas inúmeras qualidades como mestre harmônico, de gosto marcante pela orquestração e música forte e rica. Foi condenado pela escolha de seus poetas, sem originalidade e sem autênticas qualidades.


 Ricardo Alexandre Silva de Lima

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CANDÉ, Roland de. História Universal da Música.2ª ed, Vol. 1. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FONSECA, Ozório José de Menezes; BARBOSA, Walmir de Albuquerque; MELO, Sandro Nahmias. Normas para elaboração de Monografias, Dissertações e Teses. Manaus: UEA, 2005.

MASSIN, Jean. História da Música Ocidental. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
PALISCA, Claude V.; GROUT, Donald J. História da Música Ocidental. Lisboa: Gradiva, 1994.


[1] Acadêmico do Curso de Música da Universidade do Estado do Amazonas – UEA.
[2] Doutor em Ciências Musicais, Professor do Curso de Música da Universidade do Estado do Amazonas – UEA.

Um comentário:

Fabiano Araújo disse...

Professor, redação impecável sobre Jean‐Philippe Rameau. Minha intenção é continuar estudando vossos textos. "Ainda existe vida inteligente no Brasil!"