segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Origem e contexto da forma sonata e rondó no século XVIII


Antes de mencionar a respeito da forma sonata e rondó no período clássico, cabe saber primeiramente o desenvolvimento do estilo clássico, ou seja, quais foram às influências que ocorreram para que esse estilo fosse desenvolvido e que surgissem novos movimentos instrumentais.
 O inicio do século XVIII marca certo esforço em que o estilo barroco tenta sobreviver às mudanças que estavam a ocorrer neste período, porquanto no século XVIII dá inicio a era dos filósofos da razão onde a religiosidade passa a ser deixada de lado e as pessoas começam a agir por conta própria, ou seja, neste século a religiosidade não predomina como no século XVII e a razão começa a predominar a fé.  
Este século da inicio a um novo movimento denominado de Iluminismo, esse movimento pode ser percebido através do contraste de duas afirmações feitas por Charles Burney e Andreas Werckmeister. Burney dizia o seguinte “A música é um luxo inocente e, em boa verdade, desnecessário à nossa existência, embora seja grandemente proveitosa e agradável ao sentido do ouvido”, enquanto Werckmeister dizia que a música é “uma dádiva de Deus para ser usada apenas em sua honra”.  Com essas afirmações pode-se perceber a divisão em que o homem se encontrava neste século. (cf. PALISCA, 1994, p 475)
Mas no inicio desse novo movimento a repercussão foi fundamentalmente negativa, contudo o que foi proposto pelas desavenças após longo tempo preencheu o vazio com a idéia de que a natureza e os instintos ou sentimentos naturais do homem eram a fonte do verdadeiro conhecimento e da ação justa, Rousseau foi o principal iluminista desta fase das luzes, esse movimento também ajudou nas diferenças nacionalistas deste século.
A música também foi afetada por esse movimento iluminista, muitas partituras publicadas tinham como alvo músicos amadores que realizavam concertos periódicos e que discutiam sobre a música. Outro ideal dos iluministas era que a música devia expressar os sentimentos da alma e assim os compositores eram instados a compor musicas simples e diretas, sendo acessíveis ao gosto do público. Nesta época, as músicas eram encomendadas por nobres e alguns desses nobres eram músicos e formavam orquestras em suas cortes e sempre contratava os próprios compositores ou músicos renomeados para dirigi-los. (cf. PALISCA, 1994, p 480, 481)
Se no período barroco a música instrumental foi um gênero de grande importância para os compositores de sua época, no classicismo é dada uma importância bem maior, em primeiro lugar, à sua forma, ou seja, como essas obras eram compostas na sua estruturação, e em segundo lugar pela dinâmica, porquanto o interesse de demonstrar realmente o que o compositor queria com suas diferenças entre fortíssimos e pianíssimos era levar a expressar os sentimentos da alma das pessoas que apreciavam suas obras. (cf. MEDAGLIA, 2008, p 84)
O conceito para forma sonata implica em um ciclo de vários movimentos com características diferentes, foi desenvolvida inicialmente pelos filhos de J.S. Bach, em especial por Carl Philip Emanuel Bach - consolidado em seguida por Joseph Haydn – e posteriormente utilizado de forma genial por compositores como Mozart e Beethoven. (cf. SCHOENBERG, 1993, p 241)
Baseia-se no princípio da coerência e contraste do material musical apresentado. Onde, de forma geral, no início da obra (tema A) é estabelecida uma tonalidade (em tom maior ou tom menor), e em seguida é inserido (tema B) um elemento de dissonância (na dominante quando em tonalidades maiores e na tônica relativa quando em tonalidades menores) que exige uma conclusão.
Essa dissonância é acentuada num segundo momento da estrutura, por meio do desenvolvimento dos temas apresentados inicialmente, até serem concluídos ao final na recapitulação, quando em tonalidades maiores, os temas A e B reaparecem ambos na mesma tonalidade principal da obra; e quando em tonalidades menores, o tema A volta a aparecer no mesmo tom menor inicial, mas o tema B retorna em um tom homônimo.
O final do desenvolvimento e o início da recapitulação são os momentos de maior tensão dentro da estrutura da forma sonata, pois é quando a tensão musical (não necessariamente dramática) do movimento é resolvida com o retorno à tonalidade de origem.
Ela não serve apenas de estrutura para sonatas, mas para qualquer formação possível, duetos, trios, quartetos, quintetos, aberturas, concertos e sinfonias. Por aí bem se vê que seu uso foi (e ainda é) amplo, e, curiosamente, mesmo seguindo um padrão rígido de disposição, dificilmente é monótono. Como ela serve, numa primeira análise, a qualquer formação instrumental, podemos concluir que a diferença entre uma sonata e uma sinfonia, depois do classicismo, é apenas quanto ao número de instrumentistas.
Descendendo diretamente da abertura da suíte barroca, a forma sonata clássica se estrutura da seguinte forma:
I – INTRODUÇÃO; muitos compositores não a utilizavam, por tanto ela não aparece obrigatoriamente em todas as obras em forma sonata.
II – EXPOSIÇÃO DO TEMA “A”: normalmente aparece na tonalidade principal da obra.
III – PONTE: responsável por interligar o tema A ao tema B.
IV – EXPOSIÇÃO DO TEMA “B”: normalmente aparece escrito na dominante quando em tonalidades maiores e na tônica relativa quando em tonalidades menores.
V – CODETTA: encerra a primeira parte da estrutura da forma sonata, a qual recebe o nome de “Exposição”.
VI – DESENVOLVIMENTO: uma das partes mais elaboradas da estrutura, onde os dois temas surgem muitas vezes em contraponto com tonalidades diferentes e variações rítmicas diversas, gerando certa instabilidade e tensão musical que, de certa forma, pede para ser resolvida com o retorno à tonalidade de origem e ao tema principal.
VII – RECAPITULAÇÃO DO TEMA “A”: tanto nas tonalidades maiores quanto menores, o tema “A” recapitulado normalmente aparece na mesma tonalidade que foi inicialmente apresentado na exposição.
VIII – PONTE MODIFICADA: responsável por ligar o tema “A” recapitulado ao tema “B” recapitulado.
IX – RECAPITULAÇÃO DO TEMA “B”: quando a tonalidade principal da obra é em tom maior, o tema “B” recapitulado costuma aparecer na “tônica” desta tonalidade, e não mais na dominante. Quando a tonalidade principal é em tom menor, o “B” recapitulado costuma retornar em um tom homônimo.
X – CODA: conclui a terceira grande parte da estrutura (Recapitulação) – iniciada na recapitulação do tema “A” – e encerra propriamente a obra. (cf. BENNETT, 1986, p 49, 50. cf. PALISCA, 1994, p 486)
Vale ressaltar que, na utilização da forma sonata durante o período clássico, é mais comum encontrarmos grande ênfase na parte destinada a exposição temática. Enquanto no período romântico (a partir de Beethoven principalmente) vemos uma maior valorização da parte da estrutura destinada ao desenvolvimento dos temas.
Rondó é uma forma musical de origem francesa, essa forma surgiu como peça para dança e canto na metade do século XVIII e inicio do século XIX. Formava com freqüência os movimentos finais das sonatas, sinfonias, concertos e obras de câmera. Sua estruturação é caracterizada pela repetição de uma secção, intercalada por, pelo menos, duas secções diferentes.
A estruturação mais simples de um rondó é feita da seguinte maneira:
A B A C A
Mas de acordo com a vontade do compositor, essa estruturação simples pode ser modificada com os acréscimos de novos temas, tornando assim de maneira extensiva. Apesar de possuir diversas variações, irá sempre acabar com o tema principal.
O Rondó foi incorporado à forma sinfônica pelo próprio Haydn, sendo geralmente disposto no final de uma sinfonia. Podemos ouvir exemplos típicos de Rondó nos movimentos dos concertos clássicos, sonatas e obras de câmara, nas obras dos compositores Beethoven, Mozart e Haydn.
Tem-se o nome de rondó-sonata, por possuir características essenciais da forma rondó e da sonata, sempre é encontrado nos últimos movimentos de concertos, sinfonias, sonatas e em musicas de câmera.
A estruturação geral do rondó-sonata e feita da seguinte maneira:
A B A C A B A
Essa estruturação é exemplificada da seguinte maneira em termos tonais:
·                   Modo Maior - T D T T
·                   Modo Menor - t Tr t t T t
Onde no modo Maior A estará na Tônica, B na dominante e A permanece na Tônica. Em modo Menor A na Tônica menor, B na Tônica relativa e A na Tônica menor. A letra C seria um desenvolvimento. Na próxima seção depois de C, a base tonal é toda modificada. (cf. SADIE, 1994, p 797, 887. cf. SCHOENBERG, 1993, p 229, 230 )

 Damião Alan de Araújo

Referencias Bibliográficas


GROUT, Donald J; PALISCA, Claude V. Historia da Musica Ocidental, Tradução: Ana Luisa Faria, Lisboa, Gradiva, 1994.

BENNETT, Roy. Uma Breve Historia da Música. Tradução: Maria Teresa Resende Costa, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986.

MEDAGLIA, Julio. Musica maestro! Do canto gregoriano ao sintetizador. São Paulo, Globo, 2008.

CARDOSO, Jose Maria Pedrosa. Historia breve da musica ocidental. Impressa da Universidade de Coimbra, Junho, 2010.

SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. São Paulo, Edusp, 1993.


SANDIE, Stanley.  Dicionário grove de música. Tradução: Eduardo Francisco Alves. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1994.

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